Dia 03/01, segundo dia em La Paz: a feira de El Alto

Acordei com uma ressaca das brabas a uma e meia da tarde. O Russo, que estava na cama ao lado e que era muito parecido com o Ozzy Ousborne me perguntou se “eu estava vivo”. Confirmei meio hesitante e tentei lembrar do que havia acontecido depois das doses de tequila. Quando encontrei meu cinto descobri que havia quebrado a fivela. Então desisti de tentar me lembrar das coisas.

Tomei um banho e sai para almoçar com uns Brasileiros que estavam viajando com uma Argentina. Fomos até um daqueles restaurantes chineses. Foi bem engraçado quando um deles resolveu experimentar um molhinho de pimenta que havia em um pote, e exagerou na dose pensando que era molho de tomate. No papo descobri que é bem comum a galera fazer alguns passeios por volta de La Paz através de agências, como o Vale da Lua, a descida de bicicleta na estrada mais perigosa do mundo e a subida ao monte Chacaltaya. Confesso que me empolguei em conhecer esses lugares, especialmente o Vale da Lula e o monte Chacaltaya, mas precisava economizar e pensei em fazer algumas coisas mais diferentes pela cidade.

Lembrei que Daniel, o Costa-riquenho da viagem de Uyuni havia me falado sobre “El Alto“, cidade da região da periferia de La Paz onde nos domingos e nas quintas acontece uma grande feira popular. Resolvi ir para lá em busca de um cinto novo e também para conhecer um pouco da realidade da população fora da zona turística. Então fui até a estação de Teleféricos e peguei um daqueles bondinhos até o topo do morro. A estrutura e organização deste meio de transporte público, gerenciado por uma empresa Estatal me impressionou bastante. Mas uma coisa me chamou a atenção: nas propagandas das empresas Bolivianas a maioria dos artistas são brancos, destoando da maioria indígena do país. Nada muito diferente do Brasil.

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A estação do teleférico

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Fundos da estação, um ônibus toda grafitado

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Galera bem branquinha na propaganda de casa própria

La Paz me lembrou bastante o Rio de Janeiro e também Florianópolis, com a elite vivendo em bairros “nobres” e os pobres empilhados em casas sem pintura nos morros. A grande diferença é que a população dos morros na Bolívia é praticamente toda indígena ou mestiça, enquanto no Brasil a maioria dos pobres é preta ou parda (é difícil ver negros na Bolívia). Outras coisas também chamaram a atenção, como passar por cima do gigantesco cemitério da cidade ou ver um carro preso em um abismo.

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Vista do teleférico

20160103_161043 Por cima do cemitério de La Paz

A vista de El Alto é impressionante, dando para ver quase toda a cidade, com o majestoso monte Illimani ao fundo (infelizmente coberto pelas nuvens). A cidade é considerada a grande cidade mais alta do mundo, estando a 4.070 metros acima do nível do mar e com quase 1 milhão de habitantes.

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La Paz vista de El Alto

A feira é uma loucura, com muita gente caminhando e com barraquinhas que vendem tudo que você possa imaginar: peças de carro, papel higiênico, roupas de todos os tipos, cds, comida, artigos religiosos, pornografia, ervas e sementes, pequenos animais. Haviam me falado para tomar cuidado com a segurança, mas confesso que me senti seguro andando pela feira. Aliás, essa é uma sensação de segurança que tive por toda a Bolívia, você nota que a pobreza é bem presente mas aparentemente o crime não predomina e a presença da Policia e das demais forças de repressão do Estado não são tão visíveis como no Brasil.

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Artigos vendidos na feira

Dei uma passeada pela região e comecei a escutar uma música ao fundo. Encontrei muitas pessoas assistindo o que parecia ser uma cerimônia religiosa tradicional, com Cholas dançando, uma banda, algumas oferendas e vários homens de terno. Prestando mais atenção me dei conta de que era uma cerimônia evangélica! Fiquei impressionado com o sincretismo religioso, muito parecido com o que temos aqui no Brasil com a Umbanda ou o Santo Daime.

Dança religiosa em El Alto

Me afastei um pouco da muvuca e encontrei uma série de murais gigantes que me chamaram bastante a atenção. São murais feitos em homenagem ao povo de El Alto, que em 2003 se revoltou contra o governo na chamada Guerra do Gás. Na época, muitos residentes de El Alto foram assassinados pelo exército, mas resistiram até a fuga do então Presidente neoliberal Gonzalo Sánchez de Lozada, culminando com a nacionalização dos hidrocarbonetos.

20160103_165625 20160103_164931 20160103_165612Murais em homenagem aos mortos na Guerra do Gás de 2003

Caminhei mais um pouco e encontrei algo bem bizarro: uma casa de shows onde ocorre luta de Cholas. No começo pensei que era algo para gringo ver, mas depois encontrei algumas barraquinhas que vendiam DVDs dessas lutas, que ocorrem também no interior do país. Tinha até plateia nas barraquinhas assistindo as lutas.

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Luta livre de Cholas!

Cholas se pegando na porrada no interior do país

Visitar a feira foi realmente divertido. Além das coisas mencionadas acima, ainda consegui assistir uma banda de rua tocando, comprar meu cinto, escutar rap Boliviano, tomar api e suco de pêssego e ainda tirar a foto mais fofa da viagem.

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Api e Suco de Pessêgo (com a fruta curtida dentro)

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A foto mais fofa da viagem: pai tirando foto da filha com duas Llamas

Banda de rua em El Alto

Na volta parti para o hostel e fui jogar sinuca e tomar cerveja com os brasileiros e dois amigos Argentinos portẽnos chamados Damian (O Chichalito) e Nazareno. Passamos algumas horas conversando sobre bandas de Rock e jogando algumas partidas. No final eu e Mychel vencemos a disputa contra os Argentinos e não deixamos de tirar um sarro deles para atiçar a velha rivalidade 🙂

Gastos (em Bolivianos)

  • 15 almoço (~R$ 8,82)
  • 55 hostel (~R$32,35)
  • 50 cinto (~R$ 29,40)
  • 6 teleférico (~R$ 3,50)
  • 25 janta (~R$ 14,70)
  • 28 cerveja (~R$ 16,47)

Total: 159 bolivianos (~R$ 93,52 na cotação de 1,70).

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