Dia 09/01: a busca por um hostel e a volta para casa

Cheguei em Santa Cruz de la Sierra por volta das 21h. Logo ao sair do avião já senti a diferença de temperatura, altitude e pressão. Estava calor e finalmente eu estava voltando a sentir que estava transpirando.

Peguei uma van e sai do aeroporto, em direção a praça dos estudiantes, onde eu tinha encontrado um hostel na internet. No caminho comecei a ver a diferença de Santa Cruz para outras cidades da Bolívia: haviam muitas concessionárias, muitos carros particulares nas ruas, supermercados (são raros em outras cidades) e até shopping center. Aparentemente o capitalismo globalizado é muito mais expandido e culturalmente enraizado do que nas cidades andinas.

Cheguei na praça e comecei a procurar o hostel, que se chamava “Los Aventureros“. A praça era bem movimentada e cheia de restaurantes próximos, muitos dos quais aceitavam cartão de crédito. Como eu faria aniversário a meia noite, fiquei pensando em comemorar bebendo uma cerveja e comendo algo ali por perto.

Foi então que encontrei o hostel. Bati palmas e ninguém atendia. Bati na porta e ninguém atendia. Já era próximo das 22h e comecei a ficar preocupado. Conversei com os flanelinhas que estava próximos e eles disseram que o hostel estava funcionando. Já puto da cara, bati com mais vontade na porta para ter certeza que iriam escutar. Ouvi um grito de “não existem vagas”, sem ao menos abrirem a porta e conversarem comigo.

Nervoso, sai em procura do outro hostel, chamado de “Loro Loco“.  Perguntei pra um rapaz em um restaurante que me disse que não ficava “muito longe”. Como já haviam dito para eu me cuidar nas ruas, fiquei um pouco cabreiro de andar depois das 22h ali pela avenida. Caminhei, caminhei e nada. Depois de umas 10 quadras perguntei a um rapaz em um sushi que me disse para virar em uma rua logo a frente.

A região parecia meio abandonada. Alguns becos escuros, bastante lixo nas ruas. Comecei a pensar que não estava no lugar certo. Foi então que um carro parou e um homem acompanhado com uma mulher me disse que eu estava indo pro lado errado, que ali era muito perigoso. Pedi uma carona até o hostel e ele gentilmente topou me levar.

Cheguei no hostel aliviado. Na sala quem eu encontro? O Russo que estava em La Paz e que parecia com o Ozzy Ousborne! Trocamos algumas ideias e tentei pegar o contato dele, mas ele não usava nenhuma rede social das que costumamos usar aqui no ocidente. O hostel era bem bacana, com um ótimo atendimento.

Deixei minhas coisas no quarto e sai para procurar um lugar para beber, comer e comemorar meu aniversário. A maioria dos restaurantes ali por perto estavam fechados. Caminhei mais um pouco e encontrei um hambúrguer ao lado de um boteco meio sombrio.  Se chamado o “Tren Rojo”. Lá comi um hambúrguer grande com batatas fritas e tomei uma coca cola. Depois fui no boteco do lado, comprei uma longneck e sai tomando de volta para o hostel. Foi meu jantar de aniversário!

Santa Cruz é uma cidade que me deu um pouco de medo. Foi a cidade mais parecida com as brasileiras. Na volta para o hostel fiquei trocando algumas ideias com um pessoal que estava meio que fazendo uma festinha. Depois fui dormir.

O dia 09/01 foi uma longa peregrinação de volta para casa. Tomei um café reforçado no hostel, depois peguei uma van para o aeroporto. Do Aeroporto de Santa Cruz um voo para São Paulo, de São Paulo um voo para Curitiba, de Curitiba um ônibus para Florianópolis. E assim terminou a viagem de 15 dias pela Bolívia. Em breve vou publicar uma resumo de todos os gastos que tive com a viagem, para ajudar futuros viajantes.

Fim da linha.

Gastos (em Bolivianos)

  • 20 janta (~R$ 11,76)
  • 8 cerveja (~R$ 4,70)
  • 45 hostel (~R$ 32,35)
  • 7 água (~R$ 4,11)
  • 15 ônibus (~R$ 8,82)
  • 16 comida pra viagem (~R$ 10,00)
  • 20 café (~R$ 11,76)
  • 5 jornal (~R$ 2,94)
  • Total: 136 bolivianos (~R$ 80 na cotação de 1,70).

 

 

Dia 02/01, primeiro dia em La Paz: o centro histórico e a festa no hostel

Cheguei na rodoviária de La Paz pela madrugada. Não quis arriscar uma caminhada naquele horário, então resolvi pegar um Táxi até o hostel que os europeus tinham me indicado em Uyuni. O hostel se chama Loki, faz parte de uma rede internacional e fica próximo da igreja de São Francisco e da praça de mesmo nome, em uma região que representa o centro histórico da maior cidade da Bolívia.

Consegui uma cama em um quarto e dormi até umas 10:30, acordei e a primeira coisa que fiz foi tomar um demorado banho, afinal faziam 4 dias que eu não via água de chuveiro (eca!). O hostel tem uma grande estrutura, a maior que vi para esse tipo de hospedagem. É um prédio de 6 andares, sendo que 2 são de áreas de convivência e o restante habitações coletivas e individuais. No meu quarto estava um Russo chamado Alexander e dois Brasileiros chamados Lucas e Mychel, além de vários Argentinos que acabei não conhecendo.

Na área de convivência lá do térreo havia rede sem fio, algumas poltronas, uma espécie de agência de turismo com passeios em todo país e chá (inclusive de coca!)  e café (em pó) de graça. Já a área de convivência do último andar tem mesa de sinuca, várias mesas, um bar e funciona como um salão de festas durante a noite. É quase uma bolha do “primeiro mundo”, pois alguns gringos costumam passar o dia todo lá escutando música anglo-saxã, navegando na internet, vendo jogos de futebol de times europeus e bebendo.

Tomei umas duas canecas grandes de chá de coca e sai dar uma volta para comer algo e conhecer o centro histórico. O troço bateu forte e sai bem eufórico caminhando pelo centro. Minha primeira parada foi na Praça Murilo, de frente para a catedral e sede do governo federal. A praça é bem bonita, tem várias estátuas de mármore, é bem arborizada e muitas pessoas ficam por ali lendo seu jornal, passando o tempo e dando de comer para os pombos.

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Praça Murilo

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Crianças alimentando os pombos

Os prédios do governo federal são bem bonitos, com uma arquitetura que lembra um pouco os prédios que vi em Madrid e Barcelona. Havia presença policial, mas menos que eu esperava para uma região tão estratégica. Consegui avistar algumas poucas motos, um canhão de água blindado e alguns guardas daqueles imóveis na frente da sede. Uma coisa que me chamou a atenção foi a bandeira multicolorida chamada “wiphala”, símbolo étnico dos povos originários dos Andes e que desde que Evo assumiu em 2008 representa o Estado Plurinacional da Bolívia.

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Sede do governo federal e os guardinhas

20160104_095513Prefeitura, a wiphala é a primeira bandeira da esquerda pra direita

Resolvi almoçar em um restaurante chinês que encontrei nos arredores. Em toda a La Paz existem muitos desdes restaurantes chineses, que servem frango frito com algum tipo de acompanhamento. Pedi frango frito com arroz e batatas fritas e veio um prato com muita, mas muita comida (principalmente arroz). Sofri e não consegui comer tudo, servindo como experiência para minhas próximas refeições em La Paz. Neste restaurante também conheci um grupo de Argentinos que eu viria a encontrar novamente em outro momento da viagem.

Caminhei mais um pouco pelo centro, encontrando algumas pichações e grafites interessantes. As ruas de La Paz, assim como as de boa parte do país estão repletas de pichações de dois tipos: declarações de amor e mensagens de apoio ou repúdio ao referendo que acontecerá dia 21 de Fevereiro e que irá decidir (entre outras coisas) se Evo Morales poderá ser candidato a Presidente novamente. Pelo que percebi a população está bem polarizada e o governo já enfrenta desgaste mesmo entre seus apoiadores. Mas até que é divertido ver algumas das mensagens, por exemplo: alguém escreve “No” (contra Evo) e depois um apoiador do governo completa “No se vá Evo”.

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Placa contra a violência contra as mulheres

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Mensagem de apoio ao referendo

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Mensagem contrária ao referendo

Também encontrei algumas mensagens feministas, inclusive placas governamentais contra a violência contra as mulheres. Por fim, não é raro encontrar lojas que vendem produtos brasileiros, inclusive igrejas evangélicas como a Universal, que tem várias filiais na Bolívia. A fé é um dos nossos produtos de exportação.

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Grafite bacana

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Igreja Universal e sua filial em La Paz

Por fim voltei até o hostel. Me disseram que haveria uma festa durante a noite, então resolvi ver qual era. Fui com os Brasileiros e ficamos bebendo e trocando ideias. Resolvi experimentar os tais drinks promocionais de algum suco com rum. Bebi vários daqueles, que pareciam “fraquinhos”. Então a festa começou a ficar uma loucura, com gente dançando em cima da mesa, tirando a camisa e todas essas coisas que você assiste naqueles filmes de adolescentes americanos. Foi nesse momento que resolvi experimentar algumas doses de tequila. Bom, a história desta noite termina por aqui.

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  Hostel Loki – o salão de festas

Gastos (em Bolivianos)

  • 15 táxi (~R$ 8,82)
  • 55 hostel (~R$32,35)
  • 28 almoço (~R$ 16,50)
  • 6 água (~R$ 3,50)
  • 3,50 (~R$ 2,00)
  • 5 jornal (~R$ 2,94)
  • 100 “cachaça” (~R$ 58,82)

Total: 210 bolivianos (~R$ 123,52 na cotação de 1,70).

Dia 26/12, primeiro dia em Samaipata

Acordei cedo e dei uma volta pelo Hostel. O Jardim de Samaipata é um hostel ecológico, onde todas as habitações são feitas com técnicas de bioconstrução, com paredes de adobe e material reciclado. Existe também um banheiro seco, onde ao invés de água se utiliza serragem para os dejetos sólidos (depois que encontrei uma aranha em uma das privadas, fiquei um tanto cabreiro de utilizar!). O pessoal também pode acampar no jardim. O clima é de liberdade total e é possível trocar hospedagem por algumas horas de trabalho.

Depois de um tempo notei que a cidade toda respira essa atmosfera ecológica, existem vários grupos de permacultura, hortas e sistemas de troca de trabalho.

20151227_182814 20151226_175443 20151226_063232Fotos do Hostel

Na saída do quarto tive alguma dificuldade com um hospede inesperado, que se recusava terminantemente a sair. Era compreensível, o chão estava fresquinho!

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Hospede inesperado

Finalmente consegui sair para tomar um café da manhã no mesmo lugar que eu havia jantado, o aconchegante “La Chakana” que fica ao lado da praça principal. Dei uma volta pela praça, tirando fotos de algumas esculturas interessantes que ficam por lá.

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La Chakana

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Fotos da Praça

Ai entra em cena o segundo perrengue da viagem. Resolvi comprar minha passagem para Sucre, e descobri que era mais caro do que eu esperava. Ou seja, precisava trocar dinheiro e não havia uma casa de câmbio aberta porque era sábado. Depois de muita peregrinação consegui trocar em um minimercado chamado “Estrejita” que fica na rodovia (consegui 1,70 na cotação).

Mais tranquilo fui em busca de meu próximo passeio. A senhora do táxi havia me avisado de um lugar muito bonito chamado “Cuevas” onde haviam várias cachoeiras. Parti em direção deste lugar, me assustando com os preços que os taxistas cobravam para levar e buscar (100 bolivianos!). Cheguei a conclusão que a forma mais barata (e divertida) de ir até lá seria de mototáxi. Foi então que eu conheci o Oscar, simpático motoqueiro Boliviano que iria me levar para os próximos passeios mais distantes da cidade. 20151226_174437

Oscar

Ir de moto foi um barato. As paisagens são bonitas e andar por aquelas estradas nas montanhas dá um friozinho na barriga. O parque das “Cuevas” é um lugar lindo. Mata tropical, montanhas avermelhadas e belas cachoeiras. Muitos Bolivianos aproveitavam o dia se refrescando nas águas com suas famílias. Valeu muito a pena se aventurar nas trilhas do parque e tomar um banho nas cascatas.

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De volta a cidade dei uma descansada e resolvi dar uma volta e comer algo. Antes fiquei um tempo no hostel curtindo um lual com aquela galera argentina que estava na praça. Depois fui um lugar chamado “La Boheme” onde iria se apresentar uma banda de “Jazz, Fusion, Rock, Bossa Nova Psicodélica” chamada Amazônika. A banda era muito boa! tocaram pelo menos duas músicas brasileiras, várias de Jazz e também duas do Buena Vista Social Clube. O trompetista era muito gente boa e já tinha morado vários anos no nordeste do Brasil.

Na finaleira da noite aparece uma visita inesperada. O meu amigo de quarto entra pela porta da frente e se recusa a sair da balada. Os seguranças tiraram ele, e segundos depois ele pulou pela janela para dentro do bar novamente, ficando lá até se entediar e resolver sair por conta própria. Botei fé nesse cachorro.

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O bar “La Boheme”

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Nosso amigo novamente

Banda Amazonika – Summertime

Gastos (em Bolivianos)

  • 19 café
  • 5 sabonete
  • 4 internet
  • 35 hospedagem
  • 40 mototáxi
  • 15 entrada cuevas
  • 15 lanche
  • 44 janta
  • 25 balada
    Total: 202b (~112 reais na cotação de 1,80).