Dia 30/12, primeiro dia em Uyuni e no salar

Entrei no ônibus e me preparei para a próxima aventura. Bom, para variar a própria viagem de ônibus teve seus ares de aventura. Passamos nos arredores de Potosi, a segunda cidade mais alta do mundo, que acabei desistindo de conhecer conforme explico aqui. O ônibus tinha banheiro e ar condicionado mas o motorista estava exagerando na temperatura. Tinha um sujeito asiático ao meu lado que se abanava com o chapéu a todo momento e parecia estar passando mal de tanto calor. A temperatura estava tão alta que o ar quente queimou a minha mão que estava encostada na janela. No fim, depois de tanta gente reclamar o motorista colocou uma temperatura mais adequada.

Quando estávamos chegando em Uiuny tentei conversar com alguns gringos que estavam no ônibus para fecharmos um grupo para o passeio. Uma moça Francesa disse que “estávamos fodidos” porque não haveria passeio de 3 dias por causa do ano novo. Chegamos em Uiuny as 4:30 da manhã e fomos recebidos por uma senhora Boliviana que nos ofereceu o pacote de 3 dias por 700 bolivianos cada (cerca de 410 reais, não incluí entrada ao parque nacional que custa 150 bolivianos). Não havia mais ninguém oferecendo pacotes por ali e estava muito frio, então não hesitamos e partimos com a senhora que administra a agência “Joyas del Sur“.

Nos juntamos eu, a Francesa (que não me lembro o nome) e um casal formado pelo Alemão Laurin e pela Suiça Eliane e fomos com a senhora para um lugar onde serviam café da manhã. Por lá trocamos várias ideias sobre a viagem, a Francesa estava quase voltando para casa e iria fazer o passeio de 1 dia pelo salar, já o casal (que haviam se conhecido na viagem) iria viajar por mais alguns meses para o Chile e talvez até para o Brasil.

Depois partimos para o mercado, onde resolvemos comprar mantimentos para o passeio no salar. Compramos muita água (importante!), papel higiênico, algumas porcarias para comer e vinho boliviano para a festa do ano novo. Também abasteci meu saquinho de folhas de coca, dado que o salar é bem alto e também porque é um barato.

Bom, Uiuny não tem muito o que fazer. Então voltamos para a agência e conhecemos mais algumas pessoas: um Colombiano, dois Costa-riquenhos chamados Pablo e Daniel e um casal de Argentinos de Córdoba chamados Romina e Oscar. O Colombiano e a Francesa partiram para o passeio de 1 dia, enquanto que eu e os demais partimos para o passeio de 3 dias.

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Rumo ao salar!

Foi então que conhecemos o bem-humorado Ernesto, o motorista Boliviano que nos guiaria no passeio. Quando entramos no carro, uma camionete Toyota, Pablo e Daniel sacaram um Cd da mochila e pediram para Ernesto colocar para tocar. Era Reggae Brasileiro! Natiruts. Primeira surpresa do dia: O Reggae Brasileiro é uma referência para a música na América Central. Vivendo e aprendendo. O problema é que o toca Cd não funcionava, mas tinha pendrive, foi aí que começamos a conhecer o peculiar gosto musical de Ernesto, que ainda vai render umas histórias por aqui.

A primeira parada foi no Cemitério de Trens, um lugar de desova de várias locomotivas alemãs, que eram utilizadas para trazer minério das minas de Potosi. Haviam muitos carros parados e dezenas de turistas tirando fotos freneticamente, fazendo poses em cima das locomotivas.

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Cemitério de Trens

As paradas são rápidas, 20 minutos depois já estávamos partindo rumo a um mercado de artesanato já próximo ao salar. Lá também estava um museu de sal, com algumas estátuas feitas de sal, paredes feitas de sal. Enfim, sal, nosso grande parceiro nesse passeio todo.

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Museu de Sal

Depois fizemos a primeira parada no salar. Aquela imensidão branca à 3.500 metros de altura é algo surpreendente. No horizonte é possível ver ao longe algumas montanhas. O sol é forte, o vento é frio e você se sente muito seco. Na primeira parada todos descemos e começamos a botar em prática nossas ideias de fotos engraçadas. Parecia um grande jardim de infância e isso foi realmente muito legal! Tivemos um pouco de azar porque não havia chovido, então não pudemos apreciar o famoso efeito espelhado que a água causa quando a luz do sol se reflete nela.

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Primeira parada no salar

Paramos para almoçar no primeiro hotel de sal criado dentro do salar (depois de um tempo as leis ambientais proibiram a existência de hotéis no salar e o hotel acabou virando somente um restaurante). O rango era simples e estava bom. O hotel fica ao lado do monumento criado para o Rali Dakar, maior prova de automobilismo do tipo no mundo e que acontece desde 2009 em terras Sul Americanas. O Dakar é incentivado pelo governo Boliviano e impulsionou o turismo na região de Uiuny e também no norte da Argentina. Importante: Durante o Dakar, que acontece nas primeiras semanas de Janeiro, não existem passeios pelo salar.

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Monumento ao Dakar

20151230_134630Antigo Hotel de Sal, hoje um restaurante

A próxima parada no salar foi em uma região onde o solo parecia todo rachado. As rachaduras no sal formavam padrões, como hexágonos e outros polígonos. A surpresa: algumas partes do solo eram extremamente finas e escondiam água no fundo. Curioso, fui logo metendo a mão dentro da água salgada (e gelada!), encontrando cristais de sal bem interessantes! Nessa parada Ernesto nos emprestou Rex, o Dinossauro, que utilizamos para tirar algumas fotos. Ele também nos falou do projeto piloto do governo, que encontrou Lítio nas águas salgadas do salar e que pretende nacionalizar a sua exploração. Lítio é um metal raro, muito utilizado na produção de baterias.

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Rex

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O salar e seus cristais de sal

Seguimos em direção as tais ilhas no meio do salar. A ilha escolhida foi Incahuasi, ou “casa Inca” no idioma queshua. O local, que era ponto de parada dos Incas, é como se fosse uma pequena montanha coberta de cactus e vegetação do deserto em pleno salar. É também um centro turístico, e como cobravam 30 bolivianos para a entrada (cerca de 17 reais), acabei por não entrar e ficar ali por fora batendo umas fotos e brincando com os cachorros que passeavam por perto.

20151230_165936Incahuasi, uma das ilhas no meio do salar

Aquele longo dia estava acabando então paramos para apreciar o por do sol no salar, que diga-se de passagem foi algo muito lindo. Depois partimos em direção ao hotel de sal, que fica bem nos limites do salar. Não preciso dizer que o hotel era todo feito de sal, inclusive a cama. Cansados, descobrimos que a ducha era paga, só podíamos usar por 5 minutos e estava muito frio. Foi então que selamos um pacto salgado: não iriamos tomar banho naquele dia.

A janta estava deliciosa: sopa, batatas e frango assado com arroz. Passamos mais de uma hora conversando sobre politica e a história de nossos países. Foi interessante perceber o quanto temos em comum enquanto latino-americanos: as ditaduras e o plano condor, os governos neoliberais, as mudanças sociais e os limites dos governos populares. Enfim, foi uma longa conversa onde divergências a parte, conseguimos nos reconhecer como irmãos. Cansados, dormimos para recarregar as baterias para o dia seguinte.

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Por do sol no salar

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Nosso quarto no hotel de sal

Dica de o que levar para o  Salar:

 

  • Roupas de frio (moleton, blusa de lã, luvas e capuz).
  • Óculos escuros
  • Protetor solar e manteiga de cacau para os lábios
  • Água, muita água
  • Folhas de coca
  • Papel higiênico

 

Gastos (em Bolivianos)

  • 700 tour de 3 dias (~R$ 411,70 ou ~R$ 137 por dia)
  • 35 café (~R$ 20,50)
  • 75 2 garrafas de vinho (~R$44,11)
  • 25 água de 5l, papel higiênico, balas e bolachas  (~R$ 14,70)
  • 3 banheiro (~R$ 1,76)
  • 5 folhas de coca (R$ 2,94)

Total: 843 bolivianos (~R$ 496 na cotação de 1,70).