Dia 08/01: último dia em La Paz, a calle de las brujas e a ida para Santa Cruz

Acordei e sai para passear com Yghor e Luiza, naquele que seria meu último dia em La Paz. Fomos para o tal mercado das bruxas, que fica na calle de las brujas (meio óbvio não).

 

A Calle de las Brujas é cheia de lojas onde se vende de tudo. As primeiras lojas da rua são especializadas em materiais para bruxaria, cerimônias religiosas, medicina alternativa, etc. Tem ervas para dor de estomago, afrodisíacos, grãos, estátuas e até llamas empalhadas (o que é um tanto bizarro). Depois tem lojas que vendem camisetas, tecidos com cores andinas, roupas, instrumentos musicais, jóias, etc.

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Tem remédio pra tudo

20160108_110242Llamas empalhadas

20160108_114957 Tecidos

Ficamos um bom tempo passeando por ali. Depois comprei alguns presentes para a família e os amigos e saímos para almoçar. Fomos até o mercado popular, onde existem vários restaurantes confinados em pequenos boxes de lata. Encontramos um em que haviam muitas pessoas. Pedimos um prato paceño, prato popular em La Paz onde vem um milho grande, um bife, vagens e um pedaço grande de queijo coalho. Estava muito bom!

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Mercado Popular

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Prato Paceño

Me despedi de Yghor e Luiza. Com os presentes comprados, passei no hostel para pagar minha conta e pegar minhas coisas para ir para o aeroporto. Peguei uma van que em cerca de meia hora estava no aeroporto em El Alto, pertinho da feira em que fui no meu segundo dia na cidade.

O aeroporto era mediano, mais ou menos do mesmo tamanho do de Florianópolis. Talvez até um pouco menor. Lá peguei um voo direto para Santa Cruz de La Sierra. O voo da companhia Amaszonas durou pouco mais de 1 hora, e foi bem tranquilo.

Foi então que cheguei em Santa Cruz, e comecei minha jornada para procurar um hostel. História que continuo no próximo post. O último desta viagem!

Fotos selecionadas de La Paz

Gastos (em Bolivianos)

  • 55 hostel (~R$ 32,35)
  • 116 presentes (~R$ 68,23)
  • 8 ônibus (~R$ 4,70)
  • Total: 195,5 bolivianos (~R$ 115,00 na cotação de 1,70).

Dia 07/01: voltando para La Paz

Esse dia até que foi tranquilo. Acordei com o chileno desesperado para comprar água, depois do porre da noite anterior. Fomos no mercadinho e compramos uns 2 litros de água que duraram bem pouco.

Depois disso ficamos ali na frente da hospedagem tomando mate e jogando conversa fora. Estávamos em dúvida se dormiríamos mais um dia por ali, mas no fim todos decidiram por ir embora. Os chilenos e Pingo foram os primeiros, pegaram o primeiro horário do barco as 9:30. O restante (eu incluído) esperou o próximo horário das 13:30.

O barco foi direto para Copacabana. A viagem durou pouco mais de 2 horas, tempo em que ficamos (para variar) tomando mate e trocando idéias. Uma coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de argentinos no barco e a quantidade coisas que eles levavam. Tinha gente carregando barraca, chaleira, porta mate e até botijão de gás!

Na chegada em Copacabana fomos almoçar em um restaurante na subida da ladeira. Me despedi de Flor e Julieta e parti para La Paz em um dos ônibus que saem da praça (tem de hora em hora, não compre nas agências!).

No ônibus pensei em dormir, mas ai comecei a conversar com um casal de brasileiros que estavam nos bancos da frente. Eles se chamavam Yghor e Luiza e estavam viajando pela América Latina já fazia algum tempo. Ficamos conversando sobre nossas viagens por um tempão, e contei inclusive sobre os bloqueios na vinda de La Paz para Copacabana.

Foi então que ao chegarmos perto de El Alto o ônibus começou a fazer um desvio, pois parecia que havia outro bloqueio na pista. O desvio era enorme, e começamos a andar por uma estrada de chão que parecia não terminar. As luzes da cidade ficavam cada vez mais longe. No caminho várias luzes de outros veículos pareciam dançar perdidas na escuridão. Foi então que o ônibus parou e vimos algumas figuras encapuzadas que haviam montado uma barricada. Eram moradores de El Alto, e pareciam bem organizados para barrar e decidir se deixavam passar ou não os carros que por ali passavam. A cena ficava ainda mais bizarra porque no fundo do ônibus haviam uns 10 adolescentes bolivianos jogando truco e ouvindo Cumbia sem fones no último volume. E eu que achava que a volta seria tranquila!

Enfim voltamos a nos aproximar de El Alto. O ônibus desceu a montanha e parou no ponto de partida: o cemitério. O motorista avisou que era a parada final. Estávamos só nos três no ônibus, e anteriormente o mesmo motorista tinha avisado que a parada final seria a rodoviária. Aparentemente ele mudou de ideia para cortar custos. Só esqueceu que havia nos dado a palavra.  Depois de muito bate boca resolvemos sair do ônibus e pegar um táxi para perto do Hostel Loki.

Por lá ainda ficamos procurando uma hospedagem mais barata, mas parecia que não teríamos muita sorte naquele dia, dado que um dos donos de hostel disse não haverem vagas após ter dito pra gente subir.  Enfim fomos para no bom e festivo Loki, pro azar de Yghor e Luiza que queriam descansar.

Comemos um velho e bom choripan na frente do hostel e partimos pra festa. Era uma festa bem louca onde a galera se pintava com tintas fosforescentes. Yghor e Luiza estavam cansados e ficaram pouco. Bebemos algumas cervejas e conversamos. Quando eles foram embora fiquei dançando com um grupo de Paraguaios que estavam em uma excursão. Lá conheci Daisy, uma Paraguaia super gente fina com quem miraculosamente consegui dançar.

Por fim fui dormir, aguardando meio tristonho por meu último dia em La Paz.

Fotos selecionadas da Isla del Sol (Flickr)

Gastos (em Bolivianos)

  • 17 café (~R$ 10,00)
  • 25 barco (~R$ 14,70)
  • 12 água pro dia todo (~R$ 7,00)
  • 30 almoço em Copacabana (~R$ 17,64)
  • 10 táxi para hostel (R$ 5,88)
  • 30 cervejas (R$ 17,64)
  • Total: 123 bolivianos (~R$ 72,35 na cotação de 1,70).

 

Dia 03/01, segundo dia em La Paz: a feira de El Alto

Acordei com uma ressaca das brabas a uma e meia da tarde. O Russo, que estava na cama ao lado e que era muito parecido com o Ozzy Ousborne me perguntou se “eu estava vivo”. Confirmei meio hesitante e tentei lembrar do que havia acontecido depois das doses de tequila. Quando encontrei meu cinto descobri que havia quebrado a fivela. Então desisti de tentar me lembrar das coisas.

Tomei um banho e sai para almoçar com uns Brasileiros que estavam viajando com uma Argentina. Fomos até um daqueles restaurantes chineses. Foi bem engraçado quando um deles resolveu experimentar um molhinho de pimenta que havia em um pote, e exagerou na dose pensando que era molho de tomate. No papo descobri que é bem comum a galera fazer alguns passeios por volta de La Paz através de agências, como o Vale da Lua, a descida de bicicleta na estrada mais perigosa do mundo e a subida ao monte Chacaltaya. Confesso que me empolguei em conhecer esses lugares, especialmente o Vale da Lula e o monte Chacaltaya, mas precisava economizar e pensei em fazer algumas coisas mais diferentes pela cidade.

Lembrei que Daniel, o Costa-riquenho da viagem de Uyuni havia me falado sobre “El Alto“, cidade da região da periferia de La Paz onde nos domingos e nas quintas acontece uma grande feira popular. Resolvi ir para lá em busca de um cinto novo e também para conhecer um pouco da realidade da população fora da zona turística. Então fui até a estação de Teleféricos e peguei um daqueles bondinhos até o topo do morro. A estrutura e organização deste meio de transporte público, gerenciado por uma empresa Estatal me impressionou bastante. Mas uma coisa me chamou a atenção: nas propagandas das empresas Bolivianas a maioria dos artistas são brancos, destoando da maioria indígena do país. Nada muito diferente do Brasil.

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A estação do teleférico

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Fundos da estação, um ônibus toda grafitado

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Galera bem branquinha na propaganda de casa própria

La Paz me lembrou bastante o Rio de Janeiro e também Florianópolis, com a elite vivendo em bairros “nobres” e os pobres empilhados em casas sem pintura nos morros. A grande diferença é que a população dos morros na Bolívia é praticamente toda indígena ou mestiça, enquanto no Brasil a maioria dos pobres é preta ou parda (é difícil ver negros na Bolívia). Outras coisas também chamaram a atenção, como passar por cima do gigantesco cemitério da cidade ou ver um carro preso em um abismo.

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Vista do teleférico

20160103_161043 Por cima do cemitério de La Paz

A vista de El Alto é impressionante, dando para ver quase toda a cidade, com o majestoso monte Illimani ao fundo (infelizmente coberto pelas nuvens). A cidade é considerada a grande cidade mais alta do mundo, estando a 4.070 metros acima do nível do mar e com quase 1 milhão de habitantes.

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La Paz vista de El Alto

A feira é uma loucura, com muita gente caminhando e com barraquinhas que vendem tudo que você possa imaginar: peças de carro, papel higiênico, roupas de todos os tipos, cds, comida, artigos religiosos, pornografia, ervas e sementes, pequenos animais. Haviam me falado para tomar cuidado com a segurança, mas confesso que me senti seguro andando pela feira. Aliás, essa é uma sensação de segurança que tive por toda a Bolívia, você nota que a pobreza é bem presente mas aparentemente o crime não predomina e a presença da Policia e das demais forças de repressão do Estado não são tão visíveis como no Brasil.

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Artigos vendidos na feira

Dei uma passeada pela região e comecei a escutar uma música ao fundo. Encontrei muitas pessoas assistindo o que parecia ser uma cerimônia religiosa tradicional, com Cholas dançando, uma banda, algumas oferendas e vários homens de terno. Prestando mais atenção me dei conta de que era uma cerimônia evangélica! Fiquei impressionado com o sincretismo religioso, muito parecido com o que temos aqui no Brasil com a Umbanda ou o Santo Daime.

Dança religiosa em El Alto

Me afastei um pouco da muvuca e encontrei uma série de murais gigantes que me chamaram bastante a atenção. São murais feitos em homenagem ao povo de El Alto, que em 2003 se revoltou contra o governo na chamada Guerra do Gás. Na época, muitos residentes de El Alto foram assassinados pelo exército, mas resistiram até a fuga do então Presidente neoliberal Gonzalo Sánchez de Lozada, culminando com a nacionalização dos hidrocarbonetos.

20160103_165625 20160103_164931 20160103_165612Murais em homenagem aos mortos na Guerra do Gás de 2003

Caminhei mais um pouco e encontrei algo bem bizarro: uma casa de shows onde ocorre luta de Cholas. No começo pensei que era algo para gringo ver, mas depois encontrei algumas barraquinhas que vendiam DVDs dessas lutas, que ocorrem também no interior do país. Tinha até plateia nas barraquinhas assistindo as lutas.

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Luta livre de Cholas!

Cholas se pegando na porrada no interior do país

Visitar a feira foi realmente divertido. Além das coisas mencionadas acima, ainda consegui assistir uma banda de rua tocando, comprar meu cinto, escutar rap Boliviano, tomar api e suco de pêssego e ainda tirar a foto mais fofa da viagem.

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Api e Suco de Pessêgo (com a fruta curtida dentro)

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A foto mais fofa da viagem: pai tirando foto da filha com duas Llamas

Banda de rua em El Alto

Na volta parti para o hostel e fui jogar sinuca e tomar cerveja com os brasileiros e dois amigos Argentinos portẽnos chamados Damian (O Chichalito) e Nazareno. Passamos algumas horas conversando sobre bandas de Rock e jogando algumas partidas. No final eu e Mychel vencemos a disputa contra os Argentinos e não deixamos de tirar um sarro deles para atiçar a velha rivalidade 🙂

Gastos (em Bolivianos)

  • 15 almoço (~R$ 8,82)
  • 55 hostel (~R$32,35)
  • 50 cinto (~R$ 29,40)
  • 6 teleférico (~R$ 3,50)
  • 25 janta (~R$ 14,70)
  • 28 cerveja (~R$ 16,47)

Total: 159 bolivianos (~R$ 93,52 na cotação de 1,70).

Dia 02/01, primeiro dia em La Paz: o centro histórico e a festa no hostel

Cheguei na rodoviária de La Paz pela madrugada. Não quis arriscar uma caminhada naquele horário, então resolvi pegar um Táxi até o hostel que os europeus tinham me indicado em Uyuni. O hostel se chama Loki, faz parte de uma rede internacional e fica próximo da igreja de São Francisco e da praça de mesmo nome, em uma região que representa o centro histórico da maior cidade da Bolívia.

Consegui uma cama em um quarto e dormi até umas 10:30, acordei e a primeira coisa que fiz foi tomar um demorado banho, afinal faziam 4 dias que eu não via água de chuveiro (eca!). O hostel tem uma grande estrutura, a maior que vi para esse tipo de hospedagem. É um prédio de 6 andares, sendo que 2 são de áreas de convivência e o restante habitações coletivas e individuais. No meu quarto estava um Russo chamado Alexander e dois Brasileiros chamados Lucas e Mychel, além de vários Argentinos que acabei não conhecendo.

Na área de convivência lá do térreo havia rede sem fio, algumas poltronas, uma espécie de agência de turismo com passeios em todo país e chá (inclusive de coca!)  e café (em pó) de graça. Já a área de convivência do último andar tem mesa de sinuca, várias mesas, um bar e funciona como um salão de festas durante a noite. É quase uma bolha do “primeiro mundo”, pois alguns gringos costumam passar o dia todo lá escutando música anglo-saxã, navegando na internet, vendo jogos de futebol de times europeus e bebendo.

Tomei umas duas canecas grandes de chá de coca e sai dar uma volta para comer algo e conhecer o centro histórico. O troço bateu forte e sai bem eufórico caminhando pelo centro. Minha primeira parada foi na Praça Murilo, de frente para a catedral e sede do governo federal. A praça é bem bonita, tem várias estátuas de mármore, é bem arborizada e muitas pessoas ficam por ali lendo seu jornal, passando o tempo e dando de comer para os pombos.

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Praça Murilo

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Crianças alimentando os pombos

Os prédios do governo federal são bem bonitos, com uma arquitetura que lembra um pouco os prédios que vi em Madrid e Barcelona. Havia presença policial, mas menos que eu esperava para uma região tão estratégica. Consegui avistar algumas poucas motos, um canhão de água blindado e alguns guardas daqueles imóveis na frente da sede. Uma coisa que me chamou a atenção foi a bandeira multicolorida chamada “wiphala”, símbolo étnico dos povos originários dos Andes e que desde que Evo assumiu em 2008 representa o Estado Plurinacional da Bolívia.

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Sede do governo federal e os guardinhas

20160104_095513Prefeitura, a wiphala é a primeira bandeira da esquerda pra direita

Resolvi almoçar em um restaurante chinês que encontrei nos arredores. Em toda a La Paz existem muitos desdes restaurantes chineses, que servem frango frito com algum tipo de acompanhamento. Pedi frango frito com arroz e batatas fritas e veio um prato com muita, mas muita comida (principalmente arroz). Sofri e não consegui comer tudo, servindo como experiência para minhas próximas refeições em La Paz. Neste restaurante também conheci um grupo de Argentinos que eu viria a encontrar novamente em outro momento da viagem.

Caminhei mais um pouco pelo centro, encontrando algumas pichações e grafites interessantes. As ruas de La Paz, assim como as de boa parte do país estão repletas de pichações de dois tipos: declarações de amor e mensagens de apoio ou repúdio ao referendo que acontecerá dia 21 de Fevereiro e que irá decidir (entre outras coisas) se Evo Morales poderá ser candidato a Presidente novamente. Pelo que percebi a população está bem polarizada e o governo já enfrenta desgaste mesmo entre seus apoiadores. Mas até que é divertido ver algumas das mensagens, por exemplo: alguém escreve “No” (contra Evo) e depois um apoiador do governo completa “No se vá Evo”.

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Placa contra a violência contra as mulheres

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Mensagem de apoio ao referendo

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Mensagem contrária ao referendo

Também encontrei algumas mensagens feministas, inclusive placas governamentais contra a violência contra as mulheres. Por fim, não é raro encontrar lojas que vendem produtos brasileiros, inclusive igrejas evangélicas como a Universal, que tem várias filiais na Bolívia. A fé é um dos nossos produtos de exportação.

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Grafite bacana

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Igreja Universal e sua filial em La Paz

Por fim voltei até o hostel. Me disseram que haveria uma festa durante a noite, então resolvi ver qual era. Fui com os Brasileiros e ficamos bebendo e trocando ideias. Resolvi experimentar os tais drinks promocionais de algum suco com rum. Bebi vários daqueles, que pareciam “fraquinhos”. Então a festa começou a ficar uma loucura, com gente dançando em cima da mesa, tirando a camisa e todas essas coisas que você assiste naqueles filmes de adolescentes americanos. Foi nesse momento que resolvi experimentar algumas doses de tequila. Bom, a história desta noite termina por aqui.

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  Hostel Loki – o salão de festas

Gastos (em Bolivianos)

  • 15 táxi (~R$ 8,82)
  • 55 hostel (~R$32,35)
  • 28 almoço (~R$ 16,50)
  • 6 água (~R$ 3,50)
  • 3,50 (~R$ 2,00)
  • 5 jornal (~R$ 2,94)
  • 100 “cachaça” (~R$ 58,82)

Total: 210 bolivianos (~R$ 123,52 na cotação de 1,70).