Curitiba: Parques, Flores, Mendigos e SUVs

Iniciei minha jornada de férias partindo de Floripa para Curitiba no dia 24 de Dezembro, vésperas de Natal. O trânsito na BR-101 estava tranquilo e o tempo passou rápido pois fui conversando com uma amiga que pegou carona comigo durante a viagem.

A viagem foi feita em um Ford Fiesta 1.0 que em momento algum me deixou na mão, carrinho valente! A BR-101 sentido Curitiba tem 4 pedágios, todos eles de valor bem baixo (R$ 2,30) comparados aos pedágios absurdos do Paraná. A estrada tem uma boa manutenção, poucos radares e várias paradas interessantes para comer, especialmente na subida da serra em Garuva.

BR101 sentido Curitiba, próximo a Garuva

Chegando em Curitiba fui procurar minha mãe e minha tia que estavam me esperando no Museu Oscar Niemeyer. O museu já estava fechado, então ficamos ali fora tomando um chimarrão e passeando pelo parque ao lado. O museu é bem bonito mesmo de fora, com um prédio em formato de olho que garantiu o apelido popular carinhoso de “museu do olho”. Lembra um pouco o olho de Sauron, da obra do Tolkien. Por Mordor!

Museu Oscar Niemeyer

Minha tia foi para a casa dos parentes e minha mãe e eu resolvemos dar um rolê de ônibus turístico pela cidade. Curitiba tem uma frota grande de ônibus panorâmicos que passam pelos principais pontos turísticos da cidade. Se você não entende nada da cidade vale a pena, até porque você pode escolher em quais pontos parar e depois pegar outro ônibus e parar em um próximo ponto turístico. Funciona assim: cada cartela te dá direito a 4 paradas e custa 40 reais. Você pode ligar no 156 para informações sobre endereços, ônibus e horário de funcionamento dos pontos turísticos.

No rolê do ônibus panorâmico

Embarcamos no museu e descemos na Ópera de Arame, um teatro ao ar livre bem bacana. O acesso ao interior estava fechado, então ficamos ali por fora apreciando a paisagem. O teatro fica ao lado da Pedreira Paulo Leminski, palco de grandes shows, que também estava fechada.

Ópera de Arame

A próxima parada seria uma Torre com visada panorâmica da cidade, que também estava fechada. No caminho passamos por muitos parques públicos muito bonitos, repletos de verde e de gente passeando. Curitiba chama a atenção pela quantidade de espaços públicos abertos para a população.

Um dos parques de Curitiba

Acabamos parando no centro histórico, onde eu queria conhecer a famosa Rua das Flores, mas ninguém sabia me informar onde era (sério!), talvez eu devesse ter chamado de XV de Novembro. Lá conhecemos a Catedral e mais alguns prédios históricos. Nas paredes, um grafite de Leminski para inspirar. Nas ruas do centro também passamos a conhecer outra Curitiba, diferente da cidade modelo, cheia de moradores de rua espalhados pelas calçadas. Afinal Jesus não tem dentes no país dos banguelas, nem mesmo no seu aniversário.

Centro histórico

Foi então que desisti das flores, comi o terceiro e último pastel do dia e partimos em busca do ônibus. Fomos auxiliados por uma moça que trabalhava numa loja do centro, que até pagou nossa passagem com seu cartão porque não podíamos pagar diretamente em dinheiro.

Leminski vive!

Pegamos o carro no Museu e partimos para Colombo. No caminho muitas SUVs importadas de vidros fumês com o selo da gloriosa República de Curitiba: “Eu Apoio a Lava a Jato”, misteriosamente não vi nenhum carro popular com tal selo patriota. Nos perdemos um pouco no caminho, indo parar na zona rural que tem uns parreirais bacanas, Colombo é terra de italiano fazedor de vinho, e todo mundo tem uma penca de salame na cozinha. Achamos nossos parentes e partimos para a ceia.

Neste dia não deu tempo de conhecer o Jardim Botânico, algo que viemos a fazer na volta da viagem quando minha mãe retornou para o velho Oeste. O Jardim Botânico foi sem dúvida o lugar mais bonito que conhecemos na cidade. Selecionei algumas fotos neste álbum no Flickr.

Jardim Botânico
Jardim Botânico

Dia 04/01, terceiro dia em La Paz: o centro, o parque e o saque

Meu terceiro dia em La Paz foi uma saga para resolver algumas coisas práticas. Eu precisava sacar dinheiro, comprar a passagem para Copacabana e decidir como faria para voltar para Santa Cruz de la Sierra. Acordei, comi uma empanada e parti para minha missão.

Meu primeiro destino foi a rodoviária, que fica bem próxima do hostel. Lá tive meu primeiro susto: havia uma protesto em El Alto, e os moradores estavam bloqueando a passagem enquanto o governo não oferecesse garantias de que agilizaria a construção de uma estrada melhor para a região. A primeira companhia disse nem vender o bilhete, enquanto a segunda disse que havia um “caminho alternativo”. Não botei fé e resolvi deixar para comprar a passagem depois.

Segundo problema: nenhum caixa eletrônico me permitia sacar dinheiro. Desesperado, resolvi ir direto a uma agência do Banco do Brasil na cidade (Av. 20 de Octobre). Para isso aproveitei para conhecer o centro da cidade. La Paz tem prédios grandes, correria e multidões caminhando como em qualquer grande centro.

Minha primeira surpresa foi encontrar uma espécie de barraco na frente do Ministério da Justiça. Na fachada frases sobre a ditadura militar na Bolívia. Entrei e encontrei dois senhores idosos, que conversaram comigo sobre o porque estavam ali. Eles eram vítimas da Ditadura militar de Hugo Banzer, e estão ali na frente a 1342 dias esperando que o Ministério da Justiça indenize as vítimas da repressão. Falei que no Brasil havíamos instaurado uma comissão da verdade, que não tem poder de punição por causa da lei da anistia, mas que estava fazendo um resgate histórico dos crimes contra a humanidade realizados em nosso país, e que várias pessoas foram indenizadas. Eles disseram que estamos muito a frente nesse debate e lamentaram a falta de vontade politica do governo Evo, que segundo eles não moveu uma palha nesse aspecto.

Depois eles me mostraram alguns computadores que foram queimados em um atentado feito contra eles em 2014, quando segundo eles guardas do ministério da justiça atearam fogo no barraca durante a madrugada. Também mostraram fotos de uma senhora, também vítima da ditadura, ferida durante outro atentado em 2013. Assinei o abaixo assinado e sai de lá emocionado, lembrando de quantas atrocidades foram cometidas na América Latina por essas ditaduras sanguinárias do Plano Condor, cujos reflexos nefastos sentimos até os dias de hoje.

20160104_101920

20160104_102724 20160104_102007
20160104_102734

Fotos da barraca de vigília das vitimas da ditadura militar Boliviana

Caminhei um tanto em direção a um parque que havia ali por perto para esfriar a cabeça. O parque era bem grande e bonito, repleto de árvores, brinquedos para crianças, ciclovias e passarelas. Haviam algumas pessoas passeando, casais namorando (os Bolivianos são muito românticos) e crianças brincando. A vista da passarela também era bem bonita, de longe dava para ver uma ponte que ligava duas áreas da cidade.

20160104_105654 20160104_105835 20160104_110341

Diferentes vistas do Parque Central

Passeando mais um pouco cheguei até uma espécie de praça, chamada Camacho. Por lá havia alguma infraestrutura, como lojas e centros de atendimento para a população. Mas o que mais me chamou a atenção foram os grafites e murais que estavam pintados nos muros.

20160104_111942 20160104_111823 20160104_111808 20160104_111615

Grafites no centro

Eu já estava meio de saco cheio de caminhar, então peguei uma van que me deixou na rua do Banco do Brasil. Parecia um bairro nobre, as pessoas eram mais brancas, usavam terno e gravata e dirigiam carros importados. Uma coisa que me chamou a atenção foi um casarão todo grafitado, que destoava totalmente da paisagem de concreto. Era um casarão ocupado por um coletivo anarco-feminista chamado Mujeres Creando, pois haviam várias mensagens do gênero dentro e fora do lugar, assim como livros para vender. Infelizmente o lugar estava em reforma.

20160104_11551320160104_11572520160104_115606

Fotos do Casarão Feminista do coletivo Mujeres Creando

Saindo dali fui direto ao Banco do Brasil, que fica em um imenso edifício todo espelhado em vidro azul. Lá finalmente consegui sacar o dinheiro, além de descobrir a origem do problema: minha conta estava em aplicação automática, logo não havia saldo em conta. Um tanto puto comigo mesmo fui almoçar ali perto, em um típico almoço executivo. Depois voltei para o hostel para descansar um pouco e decidir meus próximos passos. Antes disso passei na antiga igreja de São Francisco para tirar algumas fotos.

20160104_143141

Na praça da igreja

20160104_142420

20160104_142702

Igreja de São Francisco

Chegando no hostel pesquisei o preço das passagens de avião e achei uma “até que em conta” para Santa Cruz. Como eu havia escutado que as estradas que ligam Cochabamba até Santa Cruz estavam com problemas, me pareceu uma boa tentar um plano B. Não me culpe, meus relatos de viagens de ônibus pela Bolívia não foram dos melhores! Para comemorar ainda tirei umas fotos do monte Illimani da janela do Hostel.

20160104_184418

Vista do monte Illimani

Com a passagem comprada, jantei e fui até a zona sul da cidade, onde eu havia combinado de me encontrar com uma amiga boliviana. Depois de todo caos do congestionamento consegui chegar até o local, e fomos beber em um pub próximo a um shopping center. Sim, pub e shopping center, a zona sul de La Paz é totalmente diferente do centro e de El Alto, muito mais rica e parecida com qualquer outra cidade “globalizada e pasteurizada”.

Conversamos bastante e depois pegamos um ônibus para o bairro dela, onde peguei um Táxi até o hostel. Conversei com o taxista que me convenceu que era “tranquilo” ir até Copacabana no outro dia, pois haviam vários caminhos alternativos, e que o esquema era pegar o ônibus direto no Cemitério de La Paz.

Na chegada no hostel ainda tive pique para tomar umas cervejas no bar junto com os amigos Argentinos e Brasileiros, e jogar umas partidas de sinuca com os hermanos.

Gastos (em Bolivianos)

  • 16 café (~R$ 9,42)
  • 55 hostel (~R$32,35)
  • 5 limpeza do tênis (~R$ 2,94)
  • 5 pasta de dentes (~R$ 2,94)
  • 20 almoço (~R$ 11,76)
  • 3 ônibus (~R$ 1,76)
  • 33 janta (~R$ 19,41)
  • 45 drinks (~R$ 26,47)
  • 25 táxi (~R$ 14,70)
  • 20 cervejas (~R$ 11,76)
  • Total: 227 bolivianos (~R$ 133,52 na cotação de 1,70).

Passagem para Santa Cruz de la Sierra: 537 bolivianos (~R$ 316 + taxas do cartão).