Dia 06/01: lado norte da Isla del Sol, reflexões, mate e vinho e rock argentino

Despertamos bem cedo e partimos todos para o lado norte da Isla del Sol. Para isso descemos a longa escadaria e fomos até o porto onde o barco nos esperava. Mais uma vez tive sorte em estar com o grupo das porteñas, que conseguiram um belo desconto pra gente.

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Descendo as escadarias

Depois de cerca de 1 hora de viagem chegamos na parte norte da ilha. Era bem diferente, tudo ficava no plano e havia uma estrutura melhor de restaurantes, mercearias e hospedagens. A grande surpresa foi quando chegamos na praia: era linda! tinha areia e tudo, o sol brilhava no céu e o lago Titicaca ficava bem na nossa frente.

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Praia do Lago Titicaca, no lado norte

Conversei com as meninas porteñas e elas decidiram acampar na praia para economizar um pouco. Como eu não tinha barraca, resolvi ir atrás de um quarto em alguma hospedagem. Foi então que encontrei uma casa com vários quartos disponíveis.  Troquei uma ideia com um grupo que estava com a gente no mesmo hostel do lado sul e resolvemos nos dividir em dois quartos por ali. Eramos em 5, duas garotas argentinas muito queridas chamadas Flor e Julieta e dois chilenos muito engraçados chamados Francisco e Stefano.

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A hospedagem

Acomodados partimos para a praia. Nos reunimos em um grande grupo, junto com as meninas porteñas e mais uma galera e ficamos bebendo mate e torrando no sol. Encontrei por ali também algumas figuras conhecidas do primeiro dia em La Paz, como os argentinos que estavam no restaurante chinês, e os brasileiros que conheci no hostel.

Estava tudo tranquilo, até que recebemos uma surpresa inusitada: um burro meio rastafari que resolveu nos lamber. Ele queria carinho, e também comer nossas coisas! Depois de um tempo ele desistiu e foi para outra barraca. Na Isla del Sol a praia é de tod@s, inclusive de burros, patos, ovelhas, vacas e até porcos.

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Figuras ilustres na praia

Demos um tempo e até tomei um banho na congelante água do Titicaca (sério, mesmo no verão a água é realmente fria). Depois saímos para comer a famosa Truta em um restaurante bem simpático na beira do lago. Vou te dizer, a tal da truta é boa mesmo.

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A famosa truta. Com batatas, claro. Tudo tem batatas na Bolívia.

Durante a tarde resolvemos fazer a tal da trila del Inca. Foi uma longa caminhada por paisagens espetaculares, arrisco dizer que as mais incríveis da viagem, rivalizando somente com alguns lugares do salar de Uyuni. Passamos por vilarejos, cholas cuidando de animais, muitas plantações em forma de terraço, montanhas, lindas praias com água de tons esverdeados.

20160106_142758 20160106_142030 20160106_164532 20160106_162408 Algumas paisagens na trilha del Inca

Depois de muita caminhada chegamos na Mesa de Sacrifício, onde o povo Inca realizava rituais religiosos e onde existe uma rocha sagrada. Caminhando mais um pouco chegamos ao Templo del Inca, uma construção de rochas que parece um labirinto, com uma fonte de água no seu interior. Abaixo do templo existe uma bela praia, com um longo trapiche. Ali nos reunimos para pegar uma praia e dar vários mergulhos na gelada água do Titicaca. Foi bem divertido!

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Mesa de Sacrifício

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Templo del Inca

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O trapiche

Fiquei um tempo com a galera e depois me dei conta que havia esquecido de entregar a chave para Flor e Julieta, que ficaram na praia. Resolvi voltar para entregar a chave, e também para caminhar um tempo sozinho pela trilha. Quando cheguei ao Templo, encontrei um senhor Boliviano contando a história da Isla del Sol para um casal de turistas. Falou dos antigos rituais incas, de seus costumes e tradições, e do extermínio realizado pelos conquistadores espanhóis. Ele vendia alguns artesanatos, como simpatizei com ele resolvi levar uma Cruz Andina, uma Chakana. Objeto de muito significado para os povos andinos.

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A Chakana

Quando estava na metade do caminho desabei e comecei a chorar. Lembrei de o quão belo era aquele lugar, e de que como eu nunca poderia contar a Aline das coisas que vi ali. Depois pensei nos povos que ali viviam e que foram massacrados por ganância e ignorância dos europeus. Por um curto período de tempo me senti impotente e pequeno, diante daquelas rochas com milênios de idade. Por mais ateu e materialista que eu seja, aquele lugar sagrado me afetou de alguma forma. Sequei as lágrimas e segui caminhando. Afinal como diz a poesia “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”.

Quase chegando na praia encontrei Julieta e Flor, que nem haviam se dado conta que eu estava com a chave. Até me convidaram para seguir, mas resolvi continuar a solitária caminhada e descansar um pouco para a noite. Cheguei no albergue, descansei um pouco e depois tomei um banho no lago Titicaca, pois não havia água no banheiro da hospedagem. Estava pronto para outra!

A noite encontramos uma figura, que era conhecido da galera. Era conhecido como Pingo, argentino de Tucumán e um baita músico. Nos juntamos a ele, que iria tocar em um restaurante para ganhar alguns trocados. Lá Pingo fez muito sucesso, sendo aplaudido por todos no restaurante. Com os bolsos cheios, comemos umas empanadas e partimos para um lugar que Pingo havia indicado.

Pingo, El Chango Tucumano!

Chegamos em uma casa de alvenaria em construção na beira da praia. Lá dentro estavam alguns argentinos meio desanimados, tocando violão. Uma família Boliviana administrava a casa, vendendo vinho e empanadas. Quando Pingo, o chango tucumano chegou, comprou umas 2 garrafas de vinho com a grana do restaurante e depois começou a tocar. Aos poucos, uma legião de argentinos foi chegando e se aconchegando com seu vinho ou fernet com coca.

As garrafas de vinho chegavam, cada um dava um gole e passava adiante. E pode ter certeza que foram muitas garrafas de vinho. A viola vez ou outra também passava de mão. Enlouquecidos os argentinos piravam ao som de um grande repertório de rock nacional: Charly Garcia, La Renga, Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota, Manal e por ai vai. Não conheço muito rock argentino, mas achei bem massa.

Noite de festa Argentina na Isla del Sol – tocando La Renga, música Revelde (Caminito)

Quando era quase meia noite o chango ainda convenceu a família a tocar a festa por mais uma meia hora. Eles estavam sorrindo de orelha a orelha, pois os vinhos não paravam de vir pra roda. No final uma gigantesca tempestade começou a cair. Foi ai que resolvemos correr pela praia para a hospedagem.

Chegamos na hospedagem muito bêbados e ainda jogamos UNO por mais uma hora. O troféu de bêbado da noite ficou para o chileno Francisco, que no meio da noite levantou para chamar o Hugo no banheiro. Despertando todos no raio de uns 100 metros. Fim da noite.

Gastos (em Bolivianos)

  • 50 truta (~R$ 29,41)
  • 25 barco (~R$ 14,70)
  • 30 hospedagem (~R$ 17,64)
  • 10 chakana (~R$ 5,88)
  • 10 empanadas (~R$ 5,88)
  • 40 vinho (~R$ 23,52)
  • Total: 165 bolivianos (~R$ 97,05 na cotação de 1,70).